O salto temporal até esta emissão justifica-se a dois tempos: no dia 30, chegámos atrasados para a emissão e não conseguimos entrar no ar (e fizemos um dj set incrível de 30 minutos para audiência privada, está em .mp3 para divulgar um dia, se quiserem muito); no dia 6, a emissão transladou-se para Roriz para a cobertura do Souto Rock (um .mp3 que entretanto se perdeu, prioridades, enfim – um belíssimo programa).
Por isso, dia 13 foi a primeira emissão depois de ATA, o que de resto se nota bastante bem pelo início e alguns outros momentos e a recordação de B Fachada é certeira: onde anda este senhor que tão mal nos habituou? Tempos áureos, em 2009, quando queria ser o Zappa português.
Ainda amigos de Kanye, pois, porque seguimos com Teyana Taylor, que se mexe e bem se mexe no rnb e lançou, com produção kanyewestiana, o mini-disco KTSE (vale a pena dar uma escuta. Ou duas). Assim como o disco seguinte, Tha Carter III, que veio no seguimento de “Alexandre procura perceber o trap”: é um disco obrigatório de Lil Wayne, editado há 10 anos, donde tirámos duas enormíssimas faixas. A Milli, em particular, é um autêntico clássico, e todo o disco ajuda a entender o desaguar numa estética tão desleixada e algo primitiva, liricamente.
O salto para a sugestão da Porto Calling é precedido por um apontamento de Blonde, o disco de Frank Ocean que vai-se a ver há quanto tempo foi e já passam dois anos. Entrou de fininho disfarçado de mancha homogénea, para trás ficou a pop apurada de Channel Orange, e ensinou-nos a apreciar o esqueleto de um rnb despojado, lânguido e quase privado. Disco essencial dos tempos modernos, e o seu autor uma das mais relevantes personalidades da pop contemporânea. Mas depois veio Screaming Jay Hawkins: se Frank sussurra em falsete auto-tunado, Jay Hawkins grita e estrebucha e canta os segredos do amor bem alto, e é poderoso e é gutural e é uma sugestão tremenda: devemo-la à Porto Calling! E antes de prosseguir, mais um pouco de Frank Ocean, a intersectar os Carpenters, porque é deles, e Stevie Wonder, porque é ele. E Van Morrison, senhoras e senhores, que iria actuar em breve no EDP CoolJazz.
Relembro que neste mês de Julho me autopropus um desafio ao qual não dei o devido seguimento. Consistiu em fazer toda a minha audição à volta de 30 novos discos na minha biblioteca (entretanto desaparecida, rip itunes library 2010-2018) e tentar daí resolver o problema da demasiada oferta, ao invés mergulhar numa sólida e diversa colecção de discos. Não correu muito bem – sobretudo porque se infiltrou o Blonde, que redescobri nesse mês porque AEA; mas é daí que vem o nome de Shirley Nanette, um disco da soul perdida da década de 70, mimoso e bonito e a merecer que o descubram também; já o nome seguinte, Allen Ginsberg, não será surpresa para quem está familiarizado com os seus amigos (a geração beat, pessoal), e surge aqui a declamar um dos seus poemas reunidos em Howl. Seminal.
Para fechar, duas incursões na discografia de Amnesia Scanner, que entretanto lançou o seu disco e lá chegaremos, oh se lá chegaremos. Até já.
1. B Fachada – Mimi 3 (Um Fim-de-Semana no Pónei Dourado, 2009)
2. Teyana Taylor – Gonna Love Me (KTSE, 2018)
3. Teyana Taylor – WTP (KTSE, 2018)
4. Lil Wayne – Mr. Carter (feat. Jay-Z) (Tha Carter III, 2008)
5. Lil Wayne – A Milli (Tha Carter III, 2008)
6. Frank Ocean – Self Control (Blonde, 2016)
7. Screaming Jay Hawkins – I Put a Spell On You (At Home with Screamin’ Jay Hawkins, 1958) | sugestão da Porto Calling.
8. Screaming Jay Hawkins – You Made Me Love You (I Didn’t Want to Do It) (At Home with Screamin’ Jay Hawkins, 1958)
9. Frank Ocean – Close To You (Blonde, 2016)
10. Van Morrison – The Way Young Lovers Do (Astral Weeks, 1968)
11. Shirley Nanette – Heaven on Earth (Never Coming Back, 1973)
12. Shirley Nanette – I’m So Glad (Never Coming Back, 1973)
13. Allen Ginsberg – A Supermarket in California (Howl, 1959)
14. Amnesia Scanner ft. Pan Daijing – AS Chaos (2018)
15. Amnesia Scanner – AS Chingy (AS, 2016)
https://archive.org/download/DRTAMOSCA0713/DRT_AMOSCA_0713.mp3
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