Soube-se no início dessa semana de Março que Scott Walker havia falecido, aos 76 anos.
mensagem da editora 4AD, via tinymixtapes.com A sua carreira tem sido, ao longo dos cinco anos deste programa, um baluarte ao qual recorremos amiúde, e representa uma série de características que nos interessam sobremaneira. Primeiro, o início classicamente pop, junto dos seus irmãos (com quem forma os Walker Brothers), e mais tarde em nome próprio, período do qual temos Scott, de 1967, como referência: canções majestosas e inebriantes, devedoras à chanson de Jacques Brel, enquanto os Beatles, por exemplo e até no mesmo país, já haviam partido para registos mais experimentais (com o psicadélico Sgt. Peppers, lançado no mesmo ano).
Será então, ao longo dos anos, que ocorrerá uma das mais interessantes, provocadoras e densas metamorfoses da história da música gravada. Perde a ambição de teen idol, e Scott reclui cada vez mais dentro do registo de cantautor; a melancolia, já presente no primeiro disco, envolve a instrumentação, e intromete-se, perniciosa, como na mágica It’s Raining Today, que ouvimos, balada subtil sobre a chuva, menos subtil porém um drone irrequieto e dissonante, que perturba – e aí se fora a inocência de Scott Walker.
“Evenings with your mother’s friends
Pregnant eyes, sagging chins
Swollen fingertips pour antique cups of tea
Who are you and where you been?
Suspended in a weightless wind
Watching trains go by from platforms in the rain
Look at the photograph, dream back last summer
Dream back the lips of that travelling salesman, Mr. Jim
He smelt of miracles with stained glass whispers
You loved his laughter, you tremble beneath him once again”
excerto de Rosemary, do disco Scott 3.
Os anos seguintes têm-no numa fase não-brilhante, e de aceitação não uniforme junto do público – uma série de discos entre o country e a pop baladeira de anos anteriores, enquanto assumidamente os fabrica por motivos financeiros. Seguir-se-á uma pausa no nome próprio para trabalhar com os irmãos, nos Walker Brothers, fase na qual se prenuncia – através de The Electrician, que ouvimos – a estética experimental do seu final de carreira.
Dessa fase posterior, que é bem mais querida do público afecto, ouvimos apenas uma música, que remonta ao The Drift, de 2006, editado já depois de Tilt, o primeiro neste registo, editado em 1995.
Terminámos a emissão com passagem por um projecto interessante, no qual os músicos propõem interpretar musicalmente os quadros de Mondrian. E é isto.
1. Scott Walker – When Johanna Loved Me (Scott, 1967)
2. Scott Walker – It’s Raining Today (Scott 3, 1969)
3. Scott Walker – Big Louise (Scott 3, 1969)
4. Scott Walker – The Seventh Seal (Scott 4, 1969)
5. Scott Walker – Duchess (Scott 4, 1969)
6. The Walker Brothers – Death of Romance (Nite Flights, 1978)
7. The Walker Brothers – The Electrician (Nite Flights, 1978)
8. The Walker Brothers – Nite Flights (Nite Flights, 1978)
9. Scott Walker – Jesse (The Drift, 2006)
10. Jamie Drouin – Composition With Double Line, 1934 (The Mondrians, 2019)
11. Chris Harris – New York City, 1942 (The Mondrians, 2019)
https://ia601406.us.archive.org/9/items/drtamosca0330/DRT_AMOSCA_0330.mp3
Comentarios