Os preços estão a subir em Luanda, depois do anúncio da depreciação da moeda nacional, o kwanza. Em janeiro, as autoridades acionaram um mecanismo para tentar pôr fim à especulação, mas não se veem resultados.Os cidadãos ouvidos pela DW África nas ruas de Luanda queixam-se sobretudo da subida do preço dos bens da cesta básica. Por exemplo, um quilo de açúcar, que antes custava 150 kwanzas, custa agora o dobro: 300 kwanzas (1,15 euros). "É muito", lamenta Madalena Bastos, moradora do bairro Fubu, na capital angolana. O arroz, o óleo vegetal e a carne e o peixe também estão mais caros. Na hora de fazer as compras é preciso fazer muitos cálculos. "Há quem não tenha dinheiro para comprar uma caixa de coxas de frango a 6.200 kwanzas [23 euros]", diz Faloni, uma residente no bairro Palanca. O poder de compra dos angolanos é cada vez mais reduzido. Combate à especulação Em janeiro, a Inspeção Geral do Ministério do Comércio e o Serviço de Investigação Criminal tentaram combater os comerciantes que alegadamente estavam a especular os preços. Mas a verdade é que não houve mudanças significativas. Os luandenses pedem um reajuste dos preços dos produtos, porque o rendimento das famílias não chega para comprar todos os bens que necessitam. "O salário não aumentou. Se estamos em crise, como é possível ter os preços tão altos?", questiona a enfermeira Manuela Ferreira. A taxa de inflação em Angola acelerou 1,47% em janeiro, face a dezembro, o valor mais alto em três meses, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Por causa da crise, já há quem pense em deixar o país. É o caso de Manuela Ferreira: "Não aguento mais. Vou emigrar. Há países em crise, mas a cesta básica não é tão cara como no nosso país", afirma. Culpa é do Governo? O deputado Alexandre Sebastião, da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), o segundo maior partido da oposição, culpa o modelo de desvalorização da moeda nacional adotado pelo Executivo angolano. "A subida dos preços dos produtos no nosso país não é de espantar, já se previa. Esse pressuposto da subida dos preços dos produtos alimentares foi sentenciado no momento em que o atual Executivo atualizou o novo modelo de desvalorização do kwanza. Chamam de depreciação, mas é uma desvalorização diária do nosso kwanza", diz. A subida repentina dos preços deve-se ao facto de Angola depender das importações, lembra Sebastião. Por isso, o parlamentar defende um maior investimento no setor da agricultura. Seria necessário "ter a agricultura como a base e a indústria como fator decisivo", refere. "Enquanto não houver esta relação, não haverá, de facto, uma alimentação segura para a nossa população. As consequências são as diferentes doenças que surgem. Importamos tudo. Até lixo é importado. E o povo consome, porque não tem onde recorrer para evitar o consumo desses bens que vêm minados."
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