Quando compro um telemóvel novo, estou a contribuir para a instabilidade no leste da República Democrática do Congo? A pergunta dá o mote à peça de teatro "Febre Coltan". "O telemóvel é indispensável à nossa vida […] é a minha pequena jóia". É assim que começa a peça "Febre Coltan". No palco, um apresentador de um programa de televisão pergunta-se sobre o que está, na verdade, dentro deste pequeno dispositivo "mágico". E é assim que se descobre que o coltan é uma matéria fundamental na produção de dispositivos eletrónicos. Com humor, a peça aborda a problemática do comércio global de matérias-primas. "O coltan é um exemplo extremo. Para cada telefone é necessária uma pequena quantidade, no entanto é muito caro e praticamente só existe no leste do Congo. Por isso tem muita influência em conflitos", afirma o encenador Jan-Christoph Gockel, que, para fazer a peça, trabalhou com uma equipa internacional, com pessoas do Congo, Bélgica, Haiti e Alemanha. Uma questão que afeta todos A peça de teatro baseia-se na história do ator congolês Yves Ndagano. Quando era criança, foi sequestrado no caminho para a escola por uma milícia e forçado a trabalhar como soldado. Uma organização não-governamental libertou-o, mas Yves não pôde voltar para casa, pois foi rejeitado pela sua comunidade. Não tinha outra opção, senão trabalhar numa mina de coltan: "Não é apenas a minha história, é a história de todos os congoleses", afirma. "Muitas crianças em Goma passaram pelo mesmo." Embora ainda não seja fácil para o ator contar a sua história, Yves diz ficar contente por a poder partilhar. Ele fundou em Goma, na província do Kivu Norte, no leste do Congo, a organização, SikilikAfrika, que através do teatro, dança e música pretende ajudar jovens a ultrapassar o trauma da guerra. "As crianças ficam surpreendidas com a peça. Têm telefones e computadores, mas não sabem de onde vêm os seus componentes. Com esta peça, as crianças ficam emocionadas e perguntam o que podem fazer contra tudo isto. Reagem de forma responsável." "Febre coltan" está pela segunda vez em cena na Alemanha. Já passou pelo Burkina Faso, Congo-Brazzaville e por Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo. Yves Ndagano espera que, um dia, a peça suba ao palco na região leste do seu país.
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