Um tribunal especial africano no Senegal condenou o antigo Presidente do Chade à prisão perpétua por crimes contra a humanidade, esta segunda-feira (30.05). A jurisdição africana "ad hoc" acusou Hissène Habré de crimes contra a humanidade, violação, escravatura e rapto,durante a repressão levada a cabo quando dirigiu o Chade com mão de ferro, entre 1982 e 1990. Antes de indicar que o tribunal condenava Habré à "prisão perpétua", Gberdao Gustave Kam, presidente do tribunal especial, disse ainda que o ex-estadista dispõe de 15 dias para apelar da decisão. Habré recusou dirigir-se ao tribunal, por não reconhecer a sua autoridade. Recorde-se, que o tribunal especial foi criado pela União Africana (UA) no âmbito de um acordo com o Senegal, tratando-se da primeira vez que um país processou um antigo líder de outra nação por abuso de direitos humanos. 40 mil mortos Investigadores chadianos descobriram que pelo menos 40 mil pessoas foram mortas durante a administração de Habré, marcada pela repressão feroz de opositores e por ataques a grupos étnicos rivais. Reed Brody, um advogado da organização internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch que trabalhou nos últimos 15 anos com as vítimas para levar Habré à justiça, disse que a condenação é uma advertência para outros déspotas. "Vinte e cinco anos depois, a condenação de Habré é uma grande vitória para as vítimas chadianas. Este veredito envia uma poderosa mensagem de que os dias em que os tiranos podiam brutalizar o seu povo, pilhar a sua riqueza e escapar para uma vida de luxo no estrangeiro estão a acabar. Foi um processo dramático com muitas provas de massacres, de torturas e de escravatura sexual entre outros," sublinhou Brody. Rádio e televisão do Chade em direto O último ato deste processo histórico foi transmitido em direto pela rádio e televisão chadianas e para as vítimas foi um alívio como disse à DW África Rachel Mouaba. “É uma grande vitória para o Chade em particular e para a África no seu todo. A justiça triunfou neste combate contra a impunidade e sobre o mau sistema que Habré instaurou no país que, antes de tudo, visava dividir os chadianos”. Este é também o sentimento de Jean Noyoma Kovoussouma, secretário-geral da associação das vítimas de Hissène Habré. "Podemos retomar com confiança o nosso slogan .Que todas as atrocidades que nos foram impostas nunca mais venham a acontecer no nosso país". Mas, a Liga Chadiana dos Direitos Humanos não está completamente satisfeita, como afirma Baldal Oyamta aos microfones da DW África. “Satisfeito, mas não totalmente porque ainda existem alguns grãos de areia na engrenagem que conduziu este processo. Todos os atores não foram levados ao tribunal e, portanto, algumas situações devem ser totalmente clarificadas - nomeadamente se existem ou não outras pessoas envolvidas no processo e que não foram ouvidas pela justiça," alertou.
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