Filipe Nyusi e Ossufo Momade acordaram integração dos militares da RENAMO nas forças de segurança e militares moçambicanas. Em ano de eleições, estará a paz consolidada?O Presidente Filipe Nyusi e o coordenador interino da RENAMO, Ossufo Momade, acordaram esta quarta-feira (11.07), sobre os princípios, processos, ações e o cronograma para o enquadramento dos militares da RENAMO, nas Forças Armadas e na Polícia. Ambas as figuras concordaram, igualmente, que a liderança da RENAMO deverá apresentar num prazo de dez dias, a lista dos seus oficiais, para ocuparem os postos previamente acordados. "A reação é de satisfação", afirmou o analista Borges Nhambir, quando abordado pela DW África. Para Nhambir, o principal motivo que teria levado as duas lideranças a acelerarem o alcance deste entendimento, é o facto de que o calendário eleitoral está apertado. Este analista recorda que Moçambique sempre foi elogiado pela comunidade internacional por realizar eleições regularmente. "Não poderia dar-se ao luxo de não realizar eleições este ano. Depois de um falhanço, tanto na economia, que já descarrilámos (na sequência da contração das dividas ocultas), como na área política. Não faria sentido algum". Também o analista Calton Cadeado defende ser do interesse, tanto do Governo, como da RENAMO, que as eleições se realizem ainda este ano, podendo sofrer, no entanto, um pequeno adiamento, devido ao atraso que se regista na sua preparação. Valor político e simbólico O primeiro aspeto a salientar dos entendimentos alcançados, esta quarta-feira (11.07), é o seu valor político e simbólico, pelo efeito tranquilizador que tem na sociedade e nos parceiros internacionais, explica Calton Cadeado. "Havia uma certa intranquilidade, sobretudo porque o impasse, neste momento, punha em causa a realização das eleições. Ainda do ponto de vista simbólico e politico - dos entendimentos alcançados - reforçam a ideia de que, quer o Governo, quer a RENAMO, estão interessados em avançar com o processo político de realização de eleições, e depois a questão do desarmamento, da desmobilização e da reintegração (dos homens armados da RENAMO), que já percebemos que será faseado.” Este é o terceiro entendimento entre o Governo e a RENAMO para o desarmamento das forças residuais da Resistência Nacional Moçambicana, depois de outros dois acordos, assinados em 1992 e 2014, terem fracassado. Otimismo sobre os consensos O analista Bores Nhambir é otimista quanto à implementação do novo entendimento. “Penso que há condições, desta vez, para não falhar. Primeiro, pelo contexto. O que é que mudou de lá para cá? Mudou que nós temos uma liderança mais aberta agora. O Presidente Nyusi, pelos exemplos que já deu, está mais aberto a fazer concessões, com coisas tangíveis e simbólicas.” Já o analista Calton Cadeado, considera que há uma atmosfera conducente, ao início do processo de desarmamento, desmobilização e de reintegração dos homens da RENAMO. Observa, no entanto, que a RENAMO inverte a sequência do processo de desarmamento dos seus homens, defendendo que primeiro ocorrerá o enquadramento e integração dos seus homens armados, e só depois a sua desmobilização e entrega de armas. Calton Cadeado afirma que a RENAMO pretende "dar o sinal político que o Governo, a FRELIMO, estava a pedir. O processo (de desarmamento) vai ocorrer, mas para isso é necessário viabilizar primeiro as eleições, que é o grande trunfo, que é o grande beneficio que a RENAMO está a espera de colher”. Ainda de acordo com o analista, um dos motivos que “forçou” a RENAMO a aceitar desarmar as suas forças residuais é que o partido seria o grande perdedor se não participasse nas próximas eleições autárquicas, tal como aconteceu no passado.Porém, Bores Nhambir observa que os processo de desarmamento, desmobilização e reintegração irão levar o seu tempo. "Isso não é um processo imediato até outubro. Pelos cálculos e pelos "timings", pelas coisas que devem acontecer, a descentralização, a eleição dos governadores, talvez em 2020. Talvez nós possamos parar e olhar para dizer que a RENAMO está efetivamente desarmada, porque a desconfiança entre as partes prevalece", afirma.
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