A última greve geral, convocada pelas centrais sindicais no último dia 14, afetou o transporte público em várias capitais e levantou mais uma vez a discussão da mobilidade urbana nos grandes centros. Quão afetada é a população pela paralisação – ainda que parcial – dos meios de transporte? Para discorrer sobre essa questão, José Luiz Portella, ex-secretário executivo do Ministério dos Transportes, trouxe o tema para o Momento Sociedade desta semana.
Portella explica que mobilidade não é pensarmos no táxi, no Metrô, no carro ou no ônibus isoladamente, mas sim na união desses modos de transporte – chamados de modais. Mobilidade é a integração desse sistema, utilizando diferentes modais para que possamos realizar um deslocamento da forma mais rápida e confortável possível.
O senso comum diria que o necessário para melhorar a atual condição de mobilidade em São Paulo é estender as linhas de transporte, mas o ex-secretário pontua que isso seria um equívoco. “No caso do Metrô, por exemplo, nosso sistema é radial. Conforme você estende as linhas, elas ficam mais carregadas, porque você chega em lugares mais distantes e, consequentemente, mais pessoas embarcam”, complementa.
Ele explica que o necessário é – antes de tudo – “interconectar trem, Metrô, ônibus e seus corredores, carros, bicicletas”. Isso porque, de quanto mais conexões a população dispuser, mais distribuída ela estará, melhorando a mobilidade. Portella, que atualmente é doutorando em História Econômica na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, exemplifica o benefício das conexões através da estação da Sé.
“No início, as linhas Vermelha e Azul do Metrô somente se conectavam na estação da Sé – chegamos a ter 800 mil pessoas por dia circulando ali. Hoje, por conta das integrações, o número diminuiu”, contou.
Portella pontua que o modelo a ser construído aqui se assemelha até certo ponto com o modelo circle line do Metrô de Londres, na Inglaterra. O Metrô paulistano é radial e concêntrico, isto é, possui linhas que partem de um mesmo centro e se expandem, afastando-se dele. A solução é a construção de linhas que compartilhem o mesmo centro com o sistema atual, mas que, ao invés de se expandir radialmente, circulem criando conexões entre as linhas já existentes.
Ele ainda mostra um indicativo apontando nessa direção, com a construção da futura linha 6 – Laranja, que partirá do bairro Brasilândia, na zona norte, e cruzará as linhas Vermelha e Azul, conectando-a com as zonas leste e sul. “Esse modelo possibilita a distribuição, aumenta a capacidade da mobilidade urbana, facilita a vida das pessoas e evita congestionamentos”, conclui Portella.
Momento Sociedade
O Momento Sociedade vai ao ar na Rádio USP todas as segundas-feiras, às 8h30 – São Paulo 93,7 MHz e Ribeirão Preto 107,9 MHz e também nos principais agregadores de podcast
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