Dois marcos a registar na história do Mutumbela Gogo: a entrada pela primeira vez de sangue novo e a abertura, em breve, de uma escola de teatro. O mais prestigiado grupo de teatro de Moçambique celebra 30 anos.O grupo, que tem como casa o Teatro Avenida, em Maputo, esteve recentemente na Alemanha, onde brindou o público de Estugarda com a emblemática peça "Os meninos de ninguém". A estadia aqui fez parte de uma digressão que os levou a Itália e atualmente a Portugal. A DW África conversou com a diretora do Mutumbela Gogo, Manuela Soeiro. DW África: Este mês o Mutumbela Gogo celebra 30 anos de existência. Quais são os planos para a celebração? Manuela Soeiro (MS): Em março, no Dia Mundial do Teatro (27.03.), nós vamos fazer um festival de teatro, vai haver muitas atividades, vamos fazer exposições e vamos fazer uma coisa que para nós é o principal: a abertura da escola de teatro. DW África: Pode contar-nos um pouco mais sobre esta escola? Já há alguns anos que tem falado sobre esse projeto... MS: Sim, nós fomos amadurecendo a ideia. Contactamos muitas escolas para ver se fazíamos uma escola a partir da nossa experiência, são 30 anos, nós já temos um arquivo muito grande e podemos transmitir aos outros o que foi a nossa escola. E o Henning Mankell teve um grande papel nisto. E, por outro lado, queríamos fazer uma escola, mas não aquela escola muito formal, académica, mas profissionalizante em que o ator é completo em tudo, quer na administração quer como fazer as peças, não só como ator. Então, é nesse sentido que vamos fazer a escola, da experiência criar experiências para eles darem o pontapé de saída e não ficarem a espera que lhes chamem, que eles próprios tenham iniciativa de fazerem coisas, grupos de teatro, por exemplo. DW África: Depois de 30 anos o Mutumbela abre portas aos jovens atores, o chamado sangue novo. Como surge essa ideia depois de tanto tempo? MS: Nós sempre quisemos fazer isso, mas as condições não permitiam. Agora eu própria sinto essa necessidade, porque não interessa só haver um grupo bom em Moçambique, isso é nada. É preciso, de facto, criar, semear outras árvores para que, de facto, o teatro singre em Moçambique. DW África: Em relação ao Henning Mankell, passa agora cerca de um ano desde a sua morte. Sabemos que era uma figura muito importante para o Mutumbela Gogo. Como tem sido a vossa relação com os vossos parceiros internacionais após a morte dele? MS: A sensação que eu tenho é de que o Henning não morreu, esse é a sensação, porque de facto os nossos parceiros continuam aqui, hoje mesmo estão aqui alguns. Só para o ano vamos ter dois a três workshops com encenadores e diretores de outras companhias conosco, todos querem trabalhar conosco e não de uma forma paternalista. Eles sentem que o grupo tem condições para trabalhar. E nós também chamamos outros elementos para trabalharem conosco em Moçambique, para fazerem crescer o teatro com [outros] encenadores, porque realmente o Henning Mankel criou-nos esta possibilidade. Mas também queriamos dar esta possibilidade aos outros.
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