África já sofre pesadamente os efeitos das mudanças climáticas. Na reunião sobre mudanças climáticas, em novembro, países de língua portuguesa querem apoio financeiro e técnico para executar medidas de sustentabilidade.Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) têm os olhos postos na Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que terá lugar na primeira quinzena de novembro deste ano, em Bona, na Alemanha. Depois da posição dos Estados Unidos, que decidiu abandonar o Acordo de Paris, os PALOP consideram importante a participação naquele fórum - face à necessidade de buscar apoio técnico e financeiro indispensável à execução das respetivas políticas para fazer face às alterações climáticas. "Depois do Acordo de Paris, a conferência de Marraquexe e de Bona vão ser todas elas conferências de implementação do acordo [multilateral]. É o que nós esperamos em Bona. Mais financiamento, mais reforço de capacidades, para que se possa, de facto, elaborar relatórios consistentes e poder aplicar esses mesmos relatórios. Nós precisamos, pelo menos a nível técnico, poder ter bons relatórios e ter os fundos para a implementação desses relatórios", considera Alexandre Cabral, coordenador do projeto sobre as comunicações nacionais da Guiné-Bissau, no âmbito da implementação da Convenção do Clima. A Guiné-Bissau, que integra vários grupos regionais e multilaterais, tem já elaborado um índice de prioridades com medidas concretas. "Priorizamos, por exemplo, as energias renováveis [como, por exemplo a energia] solar. Priorizamos também as questões ligadas a fogões melhorados. Como sabe, na Guiné-Bissau 95% do consumo de energia vem de lenha e carvão de lenha. Gás botano já é um luxo, é apenas usado por apenas 5% a 10% da população. O resto utiliza lenha e carvão", enumera. "A pressão sobre as nossas florestas é cada vez maior. Nessa tentativa de reduzir a pressão antrópica das florestas, nós privilegiamos como medida vulgarizar massivamente fogões melhorados e de alto consumo, quer a lenha quer a gás, de forma a aumentar o rendimento e a consumir pouco essa fonte de energia", conclui Cabral. Tendo em conta as suas caraterísticas físicas geográficas, a Guiné-Bissau é o segundo país do mundo cujas zonas costeiras são completamente baixas. Um dos principais problemas é a subida do nível do mar. Como consequência, "muitas das suas áreas podem desaparecer por causa das inundações", afirma. Entre os desafios, além da erosão costeira e degradação de terras agravada pela monocultura do caju, o país enfrenta o avanço das línguas salinas. "Estamos a perder hectares das bolanhas de água salgada. Os diques de proteção estão num estado muito avançado de degradação", explica Alexandre Cabral. "Medidas adaptativas também existem, além de medidas técnicas. O que não está certo é que as políticas públicas não estão sento aplicadas na Guiné-Bissau. A crise política cíclica faz com que haja um disfuncionamento ao nível do aparelho do Estado", revela o responsável. Há que, entretanto, se ultrapassar as crises políticas cíclicas e concentrar-se no desenvolvimento sustentável, aplicando todas as medidas já identificadas nos diferentes setores, sobretudo nas áreas de produção, acrescenta Cabral. Cabo Verde foca na prevenção País arquipelágico e igualmente vulnerável aos efeitos das alterações climáticas, Cabo Verde também adotou políticas claras para enfrentar eventuais problemas naturais. Entre elas, são de considerar o ordenamento das bacias hidrográficas a pensar na atividade agrícola. As autoridades cabo-verdianas estão a concluir o trabalho de casa e a identificar tópicos de prioridades a levar para a conferência de Bona, segundo Júlio César Lima, administrador do Instituto Nacional de Metereologia e Geofísica de Cabo Verde. "Claramente, o país está vinculado ao Acordo [de Paris], vai ratificá-lo, está ao lado do resto dos parceiros e não se desvia das suas políticas de prevenção em relação à problemática das alterações climáticas. Estamos, neste momento, a preparar a terceira comunicação e estamos preparados para a COP23", garante. "Estamos a melhorar o nosso sistema de informação metereológica e geofísica, tendo em conta que temos vulcões ativos", adianta. Angola quer reduzir emissões de CO2 Angola, que também vai estar representada em Bona, quer, em primeiro plano, fortalecer a sua capacidade de observação e análise sistemática de parâmetros climáticos, para permitir uma avaliação detalhada das vulnerabilidades de todo o território nacional. Isso vai ajudar a implementar as políticas-piloto. O país tem conhecido uma fase de desenvolvimento, associada a um crescimento na intensidade do carbono. E a prioridade estratégica visa fundamentalmente a promoção de tecnologias de baixo carbono – refere Giza Martins, diretor do Gabinete das Alterações Climáticas do Ministério do Ambiente da República de Angola. "Visa fundamentalmente assegurar que nós estamos a embarcar num modelo de desenvolvimento de baixo carbono. Portanto, apropriarmos a economia de baixo carbono para o desenvolvimento em Angola", explica. São Tomé e Príncipe sente efeitos na agricultura Por sua vez, São Tomé e Príncipe está preocupado com a alteração do regime de precipitações, com efeitos perversos na atividade agrícola. "A maior parte dos nossos agricultores faz o cultivo seguindo o tempo - seja a estação da gravana ou a estação das chuvas – e, havendo uma alteração desta natureza, eles vêem-se confrontados com problemas", revela Adérito Santana, metereologista de profissão e membro dos Pontos Focais da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. "Se tiverem chuva durante o período da gravana, se tiverem chuva durante o período de gravanito, as hortícolas não podem ser feitas. E depois, as outras culturas que são feitas no período das chuvas também serão afetadas. Um dos grandes problemas que temos neste momentoé a alteração do regime das chuvas", afirma. Associa-se a este problema a erosão costeira, em consequência do chamado fenómeno das "ondas gigantes", que causam destruição. Outro desafio não menos importante é o controlo do abate de árvores para a construção de casas, pelo impacto que tal prática tem na floresta das ilhas, acrescenta Santana, que defende a implementação do acordo com ou sem os Estados Unidos. "Nós devemos avançar para a implementação da Convenção. Porque uma coisa é adotar a Convenção e ficar no texto e outra é aquilo que devemos fazer no dia a dia", diz Adérito Santana. "A retirada dos Estados Unidos torna-se efetiva daqui a três anos e, até lá, muita coisa ainda pode-se passar, por um lado. Por outro lado, dentro dos EUA, daquilo que é o meu conhecimento, muitos estados estão engajados nessa problemática de mudanças climáticas. Portanto, eu acredito quase de certeza que haverá um reposicionamento dos Estados Unidos em relação a essa matéria", acredita. Cientistas, engenheiros, empreendedores fazendo parte do grupo de cidadãos responsáveis ficaram desapontados com a decisão do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em abondonar a implementação do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. O Acordo entrou em vigor no dia 4 de novembro de 2016, dois dias antes da sessão de abertura da Conferência do Clima em Marrakesh, no Marrocos – quando os governos presentes definiram 2018 como o prazo para o início da operacionalização do Acordo de Paris.
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