O primeiro-ministro Patrice Trovoada justifica o reconhecimento da “existência de uma só China, representada, no Direito Internacional, pela República Popular da China”, para reposicionar o país no atual cenário mundial.Para o primeiro-ministro são-tomense a atual dinâmica mundial está a levar ao nacionalismo e ao protecionismo, mas também a mudanças radicais ao nível macroeconómico. Segundo Patrice Trovoada, São Tomé acaba de reagir a essas mesmas mudanças: "Daí que temos de tomar em consideração os pesos específicos de grandes potências mundiais, dos grandes centros de decisão, para poder posicionar uma ilha pequena, isolada e sem grandes recursos. Uma coisa são os sentimentos e outra coisa é a 'realpolitik', os interesses do país e do Estado. E o Estado funciona em função dos seus interesses". O chefe do governo são-tomense enumerou outros argumentos que levaram à tomada de decisão coordenada com o presidente da República, Evaristo Carvalho. Taiwan passa a ter apenas dois aliados em África: Burkina Faso e a Suasilândia Recorde-se que a República Popular da China hoje é o maior parceiro bilateral do continente africano com uma relação estratégica muito importante com a União Africana de que nós fazemos parte. A República Popular da China é a segunda economia mundial, é membro permanente do Conselho de Segurança. A República Popular da China coopera no quadro do Fórum Macau com todos os países membros da CPLP. Para Taipé a decisão do executivo de Patrice Trovoada cortar as relações bilaterais pode ter razões financeiras. "O governo de São Tomé e Príncipe, com dificuldades financeiras excessivas e exigências para além daquelas que a República da China-Taiwan poderia satisfazer, ignorou 20 anos de relações diplomáticas amigáveis", diz um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros taiwanês. O Taiwan está, pois, a perder peso a nível internacional: o número de países que reconhecem Taiwan caiu consideravelmente nas últimas décadas. Em África apenas o Burkina Faso e a Suasilândia continuam a reconhecer Taiwan. A nível mundial, apenas 21 países e governos mantêm atualmente relações oficiais com Taiwan e a maioria do mundo e das Nações Unidas não reconhecem formalmente a ilha. São Tomé quer reatar relações com a República Popular da China Patrice Trovoada admite que o reconhecimento do princípio de uma só China “poderá abrir a porta para o restabelecimento das relações diplomáticas com a República Popular da China” e reforçar o intercâmbio comercial entre os dois países que já tem um peso considerável. "São Tomé e Príncipe não pode discriminar e não pode ser discriminado, sobretudo porque a nossa visão de desenvolvimento passa por abertura, cooperação com todos, passa pelo posicionamento de São Tomé e Príncipe como uma plataforma de serviços no golfo da Guiné. A República Popular da China tem uma troca comercial de 200 mil milhões de dólares para o continente africano todos os anos. E mesmo a nível de São Tomé e Príncipe, depois de Portugal, a República Popular da China é o país com o qual temos maiores trocas comerciais. Precisamos de reposicionar São Tomé e Príncipe no contexto global". O processo de transição será de 30 dias. O primeiro-ministro garantiu que foram acautelados aspetos relacionados com a permanência dos estudantes são-tomenses que estão em Taiwan, bem como os diversos projetos em curso nos domínios da Saúde, Energia e Agricultura, entre outros. As modalidades serão conhecidas dentro de dias. As relações diplomáticas entre São Tomé e Príncipe e Taiwan foram estabelecidas em maio de 1997, por decisão do então chefe de Estado, Miguel Trovoada, pai do atual primeiro-ministro.
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